Pela cidade: uma aula e um poema

Na disciplina de Literatura Portuguesa, as alunas do curso de Línguas e Humanidades estudaram a poesia de Cesário Verde. Em muitos dos seus poemas, o sujeito poético deambula pela cidade e regista as sensações suscitadas pela realidade circundante. Para compreenderem melhor a sua expressão poética, tiveram uma aula fora de portas, a caminho do centro da cidade de Braga.

Saíram do colégio a meio da manhã e puderam observar que a paisagem urbana de Dume continha ainda alguns traços rurais. Passaram por campos agrícolas, onde pastavam animais, e foram saudados com simplicidade por alguns agricultores que trabalhavam. Foi curioso poderem notar, logo ali, o contraste entre a cidade e o campo retratado por Cesário Verde.

Quando chegaram ao centro, sentaram-se na esplanada de um dos mais emblemáticos cafés da cidade, a Brasileira. Enquanto lá estavam, tiveram a tarefa de observar o que os rodeava. Olharam com mais atenção para as ruas, para os edifícios, sobretudo para as pessoas que por lá passavam, registando os seus movimentos, as suas expressões e o que trajavam.

Com tudo o que registaram nos seus blocos de notas, foi-lhes proposto escrever um poema, inspirado no estilo de Cesário Verde.

Sentiram que esta experiência foi enriquecedora para o entendimento da poesia deste escritor e que, para além disso, permitiu um olhar mais atento e crítico sobre o espaço em que vivem.

Fizeram um registo fotográfico e um vlog da aula:

Gostariam de partilhar o poema escrito pela aluna, Mariana Ferreira.

Manhã citadina

Pelo meio da manhã saí à rua

Sob um sol de inverno enganador

O ar frio, que então se anunciava

quando iniciei a minha caminhada,

não tardaria a trazer muito calor.


Subindo até ao centro da cidade

Evitava distraída os poucos carros

Olhando para as pedras da calçada,

ocupada com a bizarra atividade

de contar as beatas de cigarros.


Quando apurei mais os meus sentidos

os campos verdes, antes abundantes,

esmoreciam no horizonte acinzentado,

O chilrear dos passarinhos abafado

pelos motores de zumbidos fumegantes.


Pareceu-me ouvir, ao longe, comovente,

O carro azul do avô, a buzinar…

E vi-me no verão, na areia quente,

A procurar na confusão da gente

A sua mão longínqua a acenar.


Chegada ao centro, oh que frenesim!

De tudo um pouco: bancos, consultórios, cafés,

Manequins em montras a sorrir para mim,

E prédios velhos, de alturas discrepantes,

Quais degradados e exaustos gigantes.


Sentei-me na “Brasileira”, a observar

como faziam os poetas de antigamente

e eis que notei, entre a gente apressada,

um pedinte encardido que mendigava

e subia a rua, mancando levemente.


Com o meu olhar de artista registava

uma singularíssima amostra humana

Idosos, jovens, mulheres azafamadas

com sacos de compras e bolsas carregadas

na manhã de um simples dia de semana.

Mariana Antunes, Mariana Ferreira e Maria Vicente 11ºD