Texto de opinião
Talvez o leitor já tenha ouvido falar da Geração Z, mas não saiba bem o que significa. Este é o nome dado à geração dos nascidos entre 1997 e 2012. Segundo os estudiosos, chama-se geração, porque os indivíduos que a compõem possuem características próprias, que os distinguem dos demais. Entre as características da Geração Z, encontra-se o maior interesse pelo mundo e por questões políticas.
Esta caracterização parece-lhe estranha? Na verdade, nos últimos anos, os especialistas têm identificado um afastamento dos portugueses em relação à política – o que é comprovado pela taxa de abstenção eleitoral.
O olhar sobre a nossa realidade local confirma esta perceção. Contrariamente ao apregoado, parece-nos que os indivíduos da Geração Z pouco se manifestam sobre política, não se envolvendo em associações, ações cívicas ou políticas. Num outro plano, estudos nacionais revelam que apenas um em cada cinco jovens está informado sobre aspetos básicos do funcionamento da democracia portuguesa.
Para descobrir a cura, é necessário conhecer o mal
Modestamente, cremos que o desinteresse dos jovens por questões políticas assenta em dois fatores: a insuficiência de informação e a sua falta de qualidade. A informação é um elemento chave neste processo. A maioria dos jovens conhece bem o lado negativo dos temas políticos e desconhece os aspetos positivos. Assim, é fácil compreender como esta “má informação” os afasta.
Decorre daqui um outro elemento bastante importante: a maioria dos jovens ignora o que se discute no Parlamento, excetuando o que lhes diz diretamente respeito. Interessam-se pelo que compreendem ter impacto nas suas vidas. A título de exemplo: a defesa dos direitos dos estudantes, as propinas, assédio ou discriminação. Todavia, prestam uma atenção residual ao que cada partido defende nesses campos. E, quando se deparam com notícias sobre o assunto, olham-nas de forma cética, pouco interessada, de soslaio.
Tem que ser mesmo assim? Uma primeira proposta.
Um estudo interessante sobre esta matéria encontra-se num livro de 2018, de título Geração Milénio?, publicado por um conjunto de investigadores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Entre outros contributos, este trabalho mostra o papel determinante que a Escola pode ter para estimular o envolvimento político – designadamente recorrendo a disciplinas ou unidades curriculares em que seja fornecida informação relevante sobre o sistema político. Ciência Política, para os alunos do último ano do ensino secundário, ou Formação Cívica, lecionada aos alunos do 1º ciclo, são elementos preciosos para transmitir conhecimentos determinantes sobre estas matérias. Para formar cidadãos.
Sem prejuízo de outros contributos importantes, cremos que a Escola, sem se constituir em fonte de propaganda político-partidária, deve motivar a participação dos jovens nas questões cívicas, de cidadania e outras relativas à vida política. Podem ser um espaço de formação de consciência política, onde sejam dados a conhecer aspetos básicos, mas fundamentais, do funcionamento da democracia e das suas instituições. Onde se aprenda a estimar e a proteger aquela que, segundo alguns, é das maiores construções das sociedades modernas – a democracia.
Autor: Gil Lourenço Ferreira, Mealhada
Photo by Ben Sweet