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Indiferença não é protesto 

Texto de opinião


Indiferença não é protesto 

Este último sábado, dia 29, completei 17 anos. No nosso país, daqui a uma dúzia meses, a minha consciência será considerada relevante e reivindicarei o meu direito de participar em eleições, de enfiar o meu papelinho na caixa.

Pessoalmente, como cidadã dotada de senso comum, sempre aguardei com entusiasmo esse momento de transição, entre indivíduo inteiramente dependente da sociedade, a alguém capaz de inculcar a mesma, convertendo esta relação num mutualismo interdependente. 

Contudo, pelos resultados das eleições de ontem, foi evidente que quase metade dos portugueses discordam. Cerca de 42% optam por ficar em casa, seja por preguiça, por protesto ou inocente desinteresse.

Não faltam críticas ao nosso governo, todos sabemos rosnar sobre aquilo que está “mal”. Mas são poucos os capazes de se levantar do sofá e participar nos juízos que gerem o nosso país.

Já condenava Garret, em meados do século XIX, este povo sebastianista cegamente convicto de que aquilo que cobiça se concretizará, mas, simultaneamente, fica à espera, quase impotente, de que tudo se desenlace sem qualquer intervenção da sua responsabilidade.

O que aconteceu ao país aguerrido e curioso que, centenários atrás, expandia as nossas terras pelos mundos escondidos nos cantos do mar? Para onde foi essa bravura dominante e aquela persistência inabalável? Para aquelas caixinhas, certamente, não foi. A abstenção não é um protesto. Não é a indiferença que traz mudança. Nós, jovens, vidas do tempo pós-Salazarista, não experienciamos as medonhas consequências a que um regime não democrático pode levar e vivemos crentes de que toda a história, todas as atrocidades do passado, se distanciam do presente por um abismo segregador, mas, realisticamente, o sol do passado ainda nos ilumina o céu e o futuro e o passado estarão sempre ligados por uma cadeia temporal.

Concluindo, o nosso povo está demasiado acomodado, quase que indiferente ao seu próprio país. A população precisa de acordar, de um “safanão a tempo”, mas, não estando cá a PIDE, parece que aguardamos outra ditadura que nos force a agir. 

(Escrito dia 31/01/2022)

Ana Daniela da Silva Correia; n°2; n°521; 11°C